
Seis dias depois da violenta repressão da Polícia Militar ao protesto pacífico contra Jair Bolsonaro (sem partido) no Recife (PE), que cegou dois homens e deixou outros feridos, Antônio de Pádua deixou o cargo de secretário de Defesa Social de Pernambuco. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (4).
O governador Paulo Câmara (PSB) já havia afirmado que a ordem para atirar contra os manifestantes não partiu da cúpula do governo. Após a repercussão negativa da conduta violenta da tropa, o agora ex-secretário colocou o cargo à disposição.
O governador aceitou e nomeou o secretário executivo, Humberto Freire, para assumir a secretaria. No início da semana, o então comandante, coronel Vanildo Maranhão, pediu exoneração. Ele foi substituído pelo coronel Roberto Santana, empossado nesta sexta-feira (4).
Protocolos serão revistos
Paulo Câmara também disse que os protocolos precisam ser revistos “para que um comando de tropa na rua não possa se sentir autônomo a ponto de agir da maneira que agiu”.
“Tem toda uma rede de comando da Polícia Militar, e isso que as investigações estão apurando. Inclusive, como eu falei, não é só ordem direta, tem que saber as informações da ordem, ou seja, o que foi repassado às pessoas responsáveis pela ação, e o contexto em que estava ocorrendo a passeata no Centro do Recife. Pelo que nós temos informações, não há nada que justifique uma ação como essa da polícia”, disse o governador em entrevista à TV Globo esta semana.
Paulo Câmara também ressaltou, por meio de nota, a determinação dada ao novo secretário e ao novo comandante da PM é que o episódio do sábado (29) “nunca se repita”. Dois dias antes das manifestações, o Ministério Público do estado disse que alertou o então secretário para que orientasse a PM a “evitar eventuais excessos” no protesto.
Fatos graves
Por meio de nota, Pádua afirmou que “os fatos ocorridos no último sábado foram graves e precisam ser investigados de forma ampla e irrestrita”. Também declarou que sua “formação profissional e humanística repudia, de forma veemente, a maneira como aquela ação foi executada”.
Também no comunicado, afirmou que teve a “gestão mais duradoura na trajetória desta secretaria” e que colaborou “com a expansão e qualificação de unidades e serviços de segurança, a ampliação dos recursos humanos e, principalmente, com a redução da violência em Pernambuco, que chegou em maio ao 5º mês consecutivo de retração dos crimes contra a vida”.
Delegado da Polícia Federal, Antônio de Pádua estava à frente da Secretaria de Defesa Social desde 1º de julho de 2017. O novo secretário, Humberto Freire, também é delegado federal e fazia parte da equipe de Pádua desde o início da gestão.
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Repressão violenta
Durante a manifestação dois homens que não participavam do protesto pacífico perderam a visão em um dos olhos devido à ação truculenta da PM. O adesivador de táxis Daniel Campelo, de 51 anos, perdeu o olho esquerdo após ser atingido por uma bala de borracha. Policiais negaram o pedido de socorro feito por ele. O outro ferido foi o arrumador de contêineres Jonas Correia, de 29 anos.
Eles vão receber um auxílio do governo no valor de dois salários mínimos, por três meses. Parentes de Daniel e Jonas disseram que ganharam cestas básicas do governo. Valores de indenização e da pensão até os 75 anos ainda não foram definidos.
A vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida por spray de pimenta no rosto. O cantor Afroito foi preso durante o ato e disse que temeu ser sufocado. Um advogado foi atingido por quatro balas de borracha disparadas pelos policiais.
Investigação internacional
Integrantes de movimentos sociais assinaram um documento conjunto que comunica a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a violenta repressão policial ao protesto pacífico, com o pedido de que a investigação do caso seja monitorada internacionalmente.
Com informações do G1