Lideranças da oposição defenderam a mudança da data da eleição municipal e rejeitaram que o mandato de prefeitos e vereadores de todo o país seja prolongado

Em debate promovido pelo portal UOL nesta quarta (8), os ex-presidenciáveis Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL), a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) e o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), passaram a defender o adiamento da data das eleições 2020, deixando de ser em outubro para realizarem em novembro ou dezembro deste ano, garantindo portanto que os atuais prefeitos e vereadores terminem o mandato em 31 de dezembro.
Declarações da oposição
Haddad afirma que prorrogar mandato é “um absurdo, é coisa da ditadura“. “Não tem nada a ver com o regime democrático”, disse. O ex-prefeito defendeu um possível adiamento do primeiro turno, mas afirmou que os prefeitos não devem ficar “um único dia” além do previsto no mandato.
Já Molon declarou que a eventual prorrogação do mandato foi uma das marcas da ditadura, manifestando portanto contrariedade à medida. “A última vez que se fez isso esperamos 25 anos para votar de novo. Se ficar claro que tem que adiar as eleições, a gente vai fazer com responsabilidade, mas sem permitir que se pegue carona na crise para prorrogar [o mandato] por dois anos.”
Pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela disse que é possível adiar as eleições “por um ou dois meses”, desde que não haja a prorrogação do mandato.
Boulos, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, afirmou que “a pandemia não pode ser pretexto para mandatos biônicos” e criticou a proposta do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) de cancelar as eleições deste ano. O tucano apresentou uma proposta de emenda constitucional para unificar as eleições em 2022.
Durante a entrevista, as lideranças da oposição afirmaram que não há clima para o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e alertaram sobre os riscos da tutela militar que tem marcado o governo.
Apesar das críticas à atuação do presidente no enfrentamento da pandemia do coronavírus, representantes da esquerda e da centro-esquerda avaliaram que o processo para afastar Bolsonaro tiraria o foco do combate ao coronavírus e analisaram que não têm o apoio necessário da população.
Aprovação do governo em queda
“Parte da população precisa de agarrar em alguma esperança”, disse Molon, ao comentar pesquisa Datafolha que mostra que 33% da população aprovam a gestão Bolsonaro, 40% acreditam que o presidente mais ajuda do que atrapalha no combate à crise e 59% são contrários à renúncia. A pesquisa revela, no entanto, que para 51% dos brasileiros Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda no combate à pandemia e 37% são a favor da renúncia.
Haddad diz que quase todos os líderes do mundo, com exceção de Bolsonaro, viram suas taxas de aprovação aumentarem durante a pandemia, por buscarem a unidade nacional contra um inimigo comum, o coronavírus.
“Ele é um dos poucos líderes que perderam popularidade”, disse o ex-prefeito.
Segundo o Datafolha, a avaliação negativa do desempenho do presidente aumentou seis pontos percentuais nas duas últimas semanas.
Apesar do desgaste, Molon disse que a situação do país é “grave demais” para a população apoiar o impeachment. “Embora a população perceba a incapacidade de [Bolsonaro] conduzir, teme que o Congresso e o mundo político gastem energia com um processo como do impeachment”, afirmou o deputado.
Com informações do UOL e Valor Econômico.