Vamos precisar de muita criatividade e alguns sonhos para enfrentar os meses e anos que virão .
Pelo que que já foi levantado pela Comissão de Transição os quatro anos de governo Bolsonaro foram de terra arrasada para os serviços públicos brasileiros.
Saúde, educação, segurança publica, previdência, cultura, tecnologia, meio ambiente e saneamento, por exemplo, parecem ter sido objetos de um plano de desmonte adredemente elaborado.
As finanças publicas estão destroçadas e profundamente comprometidas com esse projeto de destruição. Até o tal teto de gastos foi furado várias vezes pela irresponsabilidade eleitoreira bancada pelo Centrão. A salvo, apenas, o pagamento dos serviços da divida interna porque isso é do sagrado interesse dos banqueiros e rentistas.
Assim, mesmo com a aprovação da PEC da Transição, o futuro governo de Lula e Alckmin enfrentará grandes dificuldades administrativas e financeiras tanto no nível conjuntural do provimento dos serviços públicos, quanto no plano estrutural da economia, da infra estrutura física e da energia.
Acrescentemos a este quadro o “pedágio” que devera ser pago pelo acordo com uma parte do Centrão de Artur Lira.
Certamente haverá, tambem, uma outra parte para o MDB, União Brasil, PSD e PSDB, já convidados a participar do governo.
A cobrança do “pedágio” vai começar pelo resto do Orçamento Secreto que Bolsonaro suspendeu ontem.
No terreno da politica, o apoio do PT e do PSB à candidatura de Lira a Presidência da Câmara foi acertadíssimo. Lula não poderia começar um governo que ganhou por 1% de diferença com um novo e mais preparado Eduardo Cunha sabotando o seu governo. Esse apoio talvez diminua (um pouquinho) o preço do “pedágio”.
Mas ainda no terreno da politica não podemos esquecer que teremos uma oposição como nunca vimos. Uma oposição de carater fascista, violenta, arruaceira e com capacidade de mobilização . Militancia ideológica e em parte armada. Articulada com as forças de segurança , especialmente as policias militares e de segmentos das forças armadas.
Embora a habilidade seja parte da criatividade politica, precisaremos de mais do que habilidade para enfrentar os proximos anos.
Precisaremos de sonhos e objetivos comuns que tenham força suficiente para se antepor ao princípios fascistas e suas fantasias de Deus , patria, familia e liberdade. Fantasia de um Deus excludente que só reconheceria como seus filhos aqueles que o reverenciam em seitas fanáticas. Fantasia de uma pátria sem povo e sem diversidade cultural, étnica, sem soberania nacional e sem humanidade. Fantasia de família como sinônimo de ódio homofóbico , repressão e preconceitos de toda ordem. E fantasia de liberdade associada sempre ao capital , á exploração do trabalho, sem direitos ligados aos trabalhadores e sem empatia pelos mais pobres.
E embora tenha sido útil na campanha eleitoral, não nos vai bastar brandir a bandeira publicitária do amor contra o ódio.
Precisaremos de algo mais potente. Um sonho que possa ser alcançado, que considere os avanços da ciencia e da tecnologia como valiosas conquistas da humanidade.
O novo programa do PSB tem como introdução um texto intitulado Brasil, Potência Criativa e Sustentável em que os socialistas brasileiros afirmam que “transformaremos nosso sonho em realidade agregando inovação, cultura, pesquisa cientifica, avanços tecnologicos que caracterizam a era do conhecimento florescente no século XXI às nossas imensas reservas naturais de água , terra fértil, sol, minerais, Amazônia e biodiversidades terrestres e marinhas. E construiremos um Brasil como potencia mundial alimentar, energética, mineral, tecnológica e cultural “.
O texto segue arrolando nossas potencialidades, desde a Amazônia 4.0, a Amazônia Azul, as cadeias produtivas ja existentes nas areas do petroleo, da siderurgia, da agroindustria,das tecnologias de informação e comunicação e da força indutora do turismo.
A mim me parece que a ideia da criatividade seja talvez um elemento que possa permear o governo e a sociedade.
Claro que a criatividade não é, como a democracia, um valor universal . Ela tem sido usada para o “bem” e para o “mal”. Mas adquiriu uma nova dimensão economica , social e cultural com a revolução tecnológica.
A economia criativa, as cidades criativas e a inovação podem se constituir em elementos nucleares de um projeto nacional da desenvolvimento capaz de unir a maioria do povo e das correntes politicas de esquerda, de centro e até conservadores democráticos.
Por outro lado vamos precisar de muita criatividade em todas as áreas do governo e da sociedade para recuperar o tempo perdido pelo bolsonarismo destrutivo.
Por Domingos Leonelli, ex-deputado federal e coordenador do site Socialismo Criativo