O Governo de Transição chefiado pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), estuda retirar o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), das mãos de um militar. A equipe técnica deve sugerir a nomeação de um civil para o cargo.
Caso acatada pelo Grupo Técnico de Inteligência Estratégica, a proposta de desmilitarização terá ainda de ser avaliada pela cúpula do governo, ou seja, a ideia irá até Lula apenas como sugestão. Caberá a ele decidir. As informações são do Poder 360.
Durante todo o governo de Jair Bolsonaro (PL), o GSI foi comandado pelo general Augusto Heleno, general da reserva aliado do atual presidente da República.
A transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também estuda tirar a segurança presidencial e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) do guarda-chuva do GSI, antiga Casa Militar. Atualmente, a pasta está sob o comando de Augusto Heleno, aliado de Bolsonaro, e já gerou impasse com a equipe do petista, que desconfia e não quer dividir a coordenação da segurança do presidente eleito na posse com eles, como é de hábito.
Integrantes da equipe de Lula se incomodam com a militarização da inteligência, que assessora o mandatário. A avaliação é a de que se trata de um resquício do período da ditadura militar e que em outros países tanto esta área quanto a de segurança do chefe do Executivo estão sob a tutela de civis.
Governo Lula busca alternativas para reverter militarização da Abin
Uma das hipóteses em estudo é alocar a Abin sob outra secretaria palaciana, como a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), cujo principal cotado para o posto é o ex-chanceler Celso Amorim.
Já a segurança presidencial, segundo relatos de quem acompanha as conversas, ficaria com a Polícia Federal (PF).
O delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, que cuida da segurança de Lula desde a campanha, foi nomeado na sexta-feira (2) para o grupo técnico de inteligência estratégica do gabinete de transição. Ele é citado por integrantes da equipe de Lula como nome forte para o cargo de diretor-geral da PF.
Outros quatro servidores foram indicados para o grupo: Vladimir de Paula Brito, da Polícia Federal e especialista em inteligência, e outros três nomes mantidos sob sigilo.
A proposta encontra respaldo na carreira. Os servidores da Abin, representados pela Intelis (União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin), também defendem que a agência deixe o GSI. Eles levaram a demanda à equipe de Lula.
A proposta na mesa da transição esvaziaria o GSI de duas de suas principais funções e não é vista como unanimidade na equipe do presidente eleito.
Uma ala da transição resiste à medida, segundo interlocutores de Lula, e é liderada pelo general Gonçalves Dias, mais conhecido como GDias.
Próximo a Lula, ele foi o responsável pela segurança do petista em seus dois mandatos na Presidência e chefiou a Coordenadoria de Segurança Institucional no início do governo Dilma.
Hoje é cotado para o cargo de chefe do GSI. Ele foi para a reserva do Exército em 2012, mas mantém uma boa relação com militares que hoje estão na cúpula da Força Terrestre.
“Efeito Ramagem”
Atualmemte, o número de militares e policiais no Gabinete de Segurança Institucional chega a 1.038 servidores, segundo dados obtidos em 2021 por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) a pedido do deputado federal Ivan Valente (PSOL). O jornal O Globo solicitou atualização do número ao GSI, mas não obteve resposta.
Outra proposta elencada pelos servidores da Abin diz respeito à indicação do diretor-geral da agência. Nas duas reuniões com a equipe de transição, eles pediram que o escolhido saia dos quadros técnicos da agência.
No governo Bolsonaro, o delegado da PF Alexandre Ramagem comandou o órgão de 2019 até março deste ano, quando deixou o cargo para disputar uma cadeira de deputado federal, para a qual foi eleito. Foi a primeira vez que um diretor-geral do órgão de inteligência do país concorreu nas eleições.
Reavaliação da segurança de Lula
O esquema de segurança do presidente eleito Lula está passando por uma reavaliação. Um grupo de cerca de 100 manifestantes contrários ao petista se concentrou em frente ao Hotel Meliá, onde ele está hospedado em Brasília, nesta segunda-feira (5). Agentes de segurança ouvidos pelo Poder360 avaliam que o grupo poderia ter forçado a entrada.
A segurança de Lula é feita principalmente por integrantes da PF e também conta com a ajuda da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Quando o ato se dispersou, integrantes da segurança do petista e da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal discutiam o que fazer.
A dinâmica dos protestos contra o resultado das eleições desafia os protocolos de Brasília. A realização dos atos é imprevisível, enquanto a secretaria está acostumada a ser informada com antecedência de manifestações e preparar a segurança.
Os manifestantes chegaram ao local em 3 ônibus logo depois do jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo.
Uma das hipóteses em discussão é criar um perímetro de segurança em torno da entrada do hotel. Nos primeiros momentos da manifestação havia apenas 6 agentes de segurança, sem o equipamento para conter multidões, protegendo a entrada.
Reforços da PMDF só chegaram depois. Agentes da segurança de Lula ficaram com a impressão de que os primeiros policiais militares que chegaram ao local pouco ajudaram.