
Em apenas 40 dias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) derrubou o 3º presidente da Petrobras durante a sua gestão. Após fritura devido ao reajuste do diesel, o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou a demissão de José Mauro Ferreira Coelho. A ação revela a instabilidade do governo federal e as tentativas (falhas) de controlar os preços dos combustíveis em ano eleitoreiro.
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A pressão sobre Coelho se intensificou no início de maio, quando a estatal anunciou um reajuste de 8,87% no preço do óleo diesel nas refinarias. Foi o terceiro aumento do ano. No acumulado de 12 meses, a gasolina subiu 31,22%, o etanol 42,11% e o diesel 53,58%.
No mesmo dia, segunda-feira (23), o MME já indiciou um substituto para o comando da petroleira: Caio Mário Paes de Andrade, um auxiliar do ministro da Economia, Paulo Guedes. A “cartada“, além de ser uma tentativa de conter reajustes nos combustíveis e causar o derretimento da baixa aprovação do governo, ainda almeja acelerar o processo de desestatização da companhia.
A reação foi quase instantanea: as ações da Petrobras afundam mais de 12% no pré-mercado de Nova York e os ativos na bolsa brasileira derreteram 4,7%.
Mais que isso: para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, a escolha de Caio para substituir José Mauro Coelho, no posto há apenas 40 dias, tem caráter eleitoreiro e é um movimento “desesperado” de Jair Bolsonaro.
“Mais um ataque de Bolsonaro à maior empresa do País. Mais um movimento eleitoreiro e desesperado do presidente da República para tentar se descolar da escalada de reajustes dos combustíveis, como se ele não tivesse responsabilidade pela política de preço dos combustíveis, pela inflação galopante que penaliza o trabalhador brasileiro e o crescimento do Brasil”, afirmou o representante da federação em entrevista para o Poder360.
Troca-troca na Petrobras
Se aceitar a indicação e seu nome for aprovado, Andrade será o 4º presidente da Petrobras desde o começo do governo Bolsonaro. José Mauro Coelho estava na presidência da petrolífera desde 14 de abril. Ele substituiu o general Joaquim Silva e Luna, demitido pelo chefe do Executivo em março, poucos dias depois do aumento de quase 25% no diesel e de quase 19% na gasolina nas refinarias.
Silva e Luna ficou menos de 1 ano no cargo — assumiu em 19 de abril de 2021. Na ocasião, a troca de comando, com a saída de Roberto Castello Branco, foi pelo mesmo motivo: os reajustes feitos pela empresa.
A assembleia para aprovar um novo indicado só pode ser realizada 30 dias depois de sua convocação. A ex-diretora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Magda Chambriard, declarou que, em sua visão, esse prazo dá a Bolsonaro a oportunidade de reforçar a narrativa de que faz o possível para deter a política de PPI (paridade de preços internacionais), sem o fazer de fato.
“Não há muita explicação para além disso. Como é que ele nomeia o presidente da Petrobras sem alinhar posição antes? Esse tipo de atitude embute um risco muito grande ao acionista e passa uma imagem de total desorganização do país”, declarou.
Para ela, a decisão só reforça a tese de que Bolsonaro age apenas com fins eleitoreiros. “É espantoso sob qualquer ótica. Completamente espantoso. Mas só reforça uma impressão que vem de algum tempo. Isso aconteceu com [Joaquim] Silva e Luna e agora se repete com o atual presidente”, declarou em entrevista ao jornal Estadão. “Ambos deixaram claro, antes de assumir, que não interfeririam na política de preços. Mas foram indicados mesmo assim.”
Enquanto isso…
Enquanto o mandatário promove um troca-troca na Petrobras, os preços dos combustíveis continuam a castigar o bolso dos brasileiros. Em abril, a gasolina, mais uma vez, representou o maior impacto sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao disparar 2,48%. Também ficaram mais caros o etanol (8,44%), o óleo diesel (4,74%) e o gás veicular (0,24%).