Linn da Quebrada deixou o BBB 22 neste domingo (10) após receber 77,6% dos votos. Ela foi a segunda travesti a participar do reality e a 12ª eliminada do programa. Nesta segunda, a ex-BBB e pré-candidata a deputada federal, Ariadna Arantes (PSB), que foi a primeira mulher trans a participar da atração fez uma homenagem emocionada à amiga no Instagram.
Você é a travesti que entrou na casa de quase todos os brasileiros e mostrou que somos maravilhosas, humanas e iguais a todos os outros”, disse Ariadna, que foi a primeira travesti a participar do reality show.
No início do programa, Lina chegou a ser apontada como uma das favoritas ao prêmio principal por diversos sites de apostas. Porém, terminou eliminada após enfrentar o paredão com Eliezer, que ficou com 15,66%, e Gustavo, que foi o menos votado com 6,74%.
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Um dos fatores que teria provocado a eliminação de Lina é a rivalidade da artista com Arthur Aguiar, um dos favoritos a levar o prêmio atualmente. Outro ponto foi a indicação de Paulo André ao paredão. Na ocasião, Lina justificou que fez a escolha por ter poucas opções, mas o público alegou ingratidão por parte dela.
Isso porque na prova de resistência que ocorreu no dia 25 de março, Paulo André, Scooby e Douglas ao verem a cantora chorando, decidiram abrir mão da vitória.
Com isso, ela ganhou a prova e se tornou a primeira mulher trans a assumir a liderança do reality. Certo ou errado, para Ariadna fica evidente que o limite para mulheres trans e travestis cometerem erros é bem menor.
“O que podemos avaliar é que uma travesti não pode cometer erros. Ela (Lina) foi julgada por ter votado em um cara que desistiu da prova para que ela ganhasse e ela não pediu isso. Apesar desse fato, ela se manteve a coerência e a fidelidade aos dela, mas infelizmente essa eliminação é um reflexo da própria sociedade quanto a nós, mulheres trans. As pessoas esperam o tempo todo que a gente cometa um erro para invalidar tudo de bom que já fizemos”, disse a ex-BBB ao Socialismo Criativo.
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Ariadna participou do BBB 11 e saiu na primeira semana do reality. Para ela o que mudou de 2011 para cá é que hoje já existe uma massa de pessoas mais engajadas com questões relacionadas a gênero e sexualidade. “Há um número maior de pessoas que defendem a minoria, mesmo que seja para ganhar likes. Na minha época só tinha haters mesmo”, pondera.
No texto que publicou no Instagram para homenagear a amiga, Ariadna disse que que Lina fez o que ela não pode fazer. “Não me interessa o que os outros pensam. Pra mim você é a grande campeã do BBB 22. Você mostrou o que eu não pude. Você se posicionou, foi forte. Enfrentou seus medos e sua participação só mostrou ao Brasil o que vivemos diariamente. Eu sou orgulhosa de ser sua amiga, mesmo que seja só pela internet”, declarou.
Para Tathiane Aquino de Araújo, secretária nacional do Movimento LGBT Socialista do PSB, a participação de Lina foi um marco por trazer debates sobre transfobia a um reality show que ainda reproduz tantos comportamentos de pessoas que não respeitam a identidade de gênero.
“Cada vez que erravam o pronome dela no programa, ficava nítido a necessidade de discutirmos o respeito e o pleno reconhecimento da identidade de gênero das pessoas. Sem contar que a Lina é muito talentosa e carismática, então a participação dela foi fundamental”, avalia Tathiane.
“É ela. Por sua causa, não tem mais desculpa para errar o artigo. É a travesti”
No discurso de eliminação, Tadeu Schmidt, lembrou que Linn da Quebrada “matou um bocado de preconceitos”. E ressaltou que a participação da artista fez com que o Brasil todo pudesse refletir sobre violência de gênero.
“Por sua causa, o Brasil inteiro sabe, não tem mais desculpa para errar o pronome. É ela. Por sua causa, não tem mais desculpa para errar o artigo. É a travesti. E não alguma palavra pejorativa”, disse o apresentador.
Schmidt ressaltou, ainda, que graças a participação de Linn da Quebrada a palavra travesti ganhou força na mídia. “Não foi só o Junior [parte do seu nome de batismo] que você matou, Lina. Você matou também um bocado de preconceitos. E, para conseguir isso, Linn não teve que bradar. Ela apenas aceitou se expor, inteira, por inteiro, inteiramente”, disse.