
Em sua passagem por Alcântara (MA), nesta quinta-feira (11), Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a flertar com o autoritarismo ao exaltar os cinco presidentes militares que o Brasil teve entre 1964 e 1985 e classificar a ditadura militar – período marcado por torturas, violações à democracia e aos direitos humanos – como um regime “um pouco diferente do que temos hoje”.
A fala ocorreu durante a cerimônia de entrega de títulos de posse a agricultores quilombolas de Alcântara – promessa feita ainda em 1983 pelo Exército brasileiro –, como forma de compensação pelos remanejamentos feitos durante a instalação do Centro de Lançamento de Alcântara, base de lançamento de foguetes da Força Aérea Brasileira.
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“Isso aqui nasceu em 1983 e foi mais uma das grandes obras dos cinco presidentes militares que tivemos no Brasil. Grandes obras ao longo de 21 anos onde vivia um regime de… um pouco diferente do que temos hoje, mas de muita responsabilidade com o futuro do país”, disse.
Regime de torturas, mortes e desaparecimentos
O regime um pouco diferente citado por Bolsonaro teve uma estrutura dedicada a torturas, mortes e desaparecimentos. Os números da repressão são pouco precisos, uma vez que a ditadura nunca reconheceu esses episódios. Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontam para 20 mil casos.
Presos relataram terem sido pendurados em paus de arara, submetidos a choques elétricos, estrangulamento, tentativas de afogamento, golpes com palmatória, socos, pontapés e outras agressões. Em alguns casos, a sessão de tortura levava à morte.
Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) listou 191 mortos e o desaparecimento de 210 pessoas. Outros 33 desaparecidos tiveram seus corpos localizados posteriormente, num total de 434 pessoas.
Governo Joe Biden
Ainda durante o evento, Bolsonaro destacou a importância do acordo entre Brasil e Estados Unidos para o uso comercial da base de Alcântara, promulgado em fevereiro de 2020 ainda sob o governo de Donald Trump. Aos presentes, ele disse acreditar que a parceria será mantida com Joe Biden, presidente que já declarou que o Brasil não terá prioridade em sua agenda em razão da política ambiental destrutiva adotada por Bolsonaro.
“O povo americano, eles são voltados para o interesse da nação. Muda governo, mas pouca coisa muda. Acredito que todos os acordos que assinamos com o governo Trump serão mantidos no governo Biden”, disse o presidente, em entrevista à imprensa após a cerimônia.
O fetiche de Bolsonaro por polêmicas
Afeito a polêmicas, ele também aproveitou a visita ao estado para citar – mais uma vez – o Guaraná Jesus como um dos atrativos turísticos do Maranhão. Em sua última visita ao estado, o presidente gerado revolta ao fazer uma piada homofóbica associada ao refrigerante, que é cor de rosa.
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A visita do mandatário, inclusive, rendeu a apresentação de uma uma queixa-crime, protocolada pelo governador do estado no Supremo Tribunal Federal (STF), por calúnia.
“A mentira pode ser usada deliberadamente no debate político? O Presidente da República, com suas elevadas atribuições, pode costumeiramente mentir?”, questionou o governador no documento.
Flávio Dino alega que Bolsonaro teria cometido calúnia ao afirmar, em entrevista ao programa “Os Pingos nos Is”, da rádio Jovem Pan, que o governador teria negado pedido do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para que a Polícia Militar fizesse a segurança presencial em visita ao Estado, em outubro do ano passado. Por isso, segundo o chefe do Executivo, a viagem foi cancelada. Flávio Dino nega a acusação.
Considerado um dos maiores opositores de Jair Bolsonaro, Flávio Dino não foi convidado para o evento.
Com informações da Folha de S.Paulo