Nesta quarta-feira (7), Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que “acabou” com a Operação Lava Jato porque “não tem mais corrupção” em seu governo. O presidente também disse ter “orgulho” da atuação do seu governo no combate à corrupção, embora tenha acrescentado que “o feito” não é “virtude, é obrigação”.
Bolsonaro deu a declaração em cerimônia sobre medidas para a aviação civil, no Palácio do Planalto, enquanto elogiava a própria gestão – na qual, segundo ele, as pessoas são confiáveis e não há interessados em “criar dificuldade para vender facilidade”. A declaração foi uma resposta às críticas de lavajatistas pelo fato dele ter se aproximado de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que se posicionam contrários à operação tocada pelo ex-juiz Sérgio Moro.
“Eu desconheço lobby para criar dificuldade para vender facilidade. Não existe. É um orgulho, uma satisfação que eu tenho, dizer a essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação”, disse Bolsonaro.
O presidente também defendeu as próprias indicações para cargos públicos. “Eu sei que isso não é virtude, é obrigação, mas nós fazemos um governo de peito aberto. Quando eu indico qualquer pessoa pra qualquer local, eu sei que é uma boa pessoa, tendo em vista a quantidade de críticas que ela recebe em grande parte da mídia”, declarou.
Moro rebate Bolsonaro
A declaração de Bolsonaro sobre a Lava Jato foi o suficiente para reacender o embate com o ex-ministro da Justiça de seu governo e ex-juiz da Operação, Sergio Moro. Sem citar diretamente o mandatário, Moro afirmou que as tentativas de acabar com a operação significam a volta da corrupção e o “triunfo da velha política”.
“As tentativas de acabar com a Lava Jato representam a volta da corrupção. É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?”, escreveu o ex-juiz.
Em um passado não muito distante…
A fala desta quarta contraria as defesas já feitas pelo presidente durante a corrida eleitoral, em 2018. Na época, ele chegou a fazer diversos elogios públicos à Operação e a indicar, antecipadamente, Moro como seu ministro. Em abril deste ano, no entanto, Moro rompeu com o governo e pediu demissão do cargo. Ao anunciar a saída, acusou Bolsonaro de interferir politicamente na autonomia da Polícia Federal, corporação responsável por operações como a Lava Jato.
As forças-tarefa da operação Lava Jato são de responsabilidade do Ministério Público Federal (MPF), um órgão independente, que não é subordinado ao governo federal. O atual chefe do MP é o procurador-geral da República, Augusto Aras, indicado por Bolsonaro em 2019.
Em setembro deste ano, a PGR autorizou a prorrogação da força-tarefa da Lava Jato no Paraná até janeiro de 2021 – os investigadores tinham pedido mais prazo. Outra força-tarefa, sediada em São Paulo, foi encerrada no fim do mesmo mês, após disputa interna entre os procuradores.
Nesta quarta, a Polícia Federal deflagrou uma nova fase da Lava Jato – a 76ª desde o início da operação. Os mandados se referem a suposta corrupção na Petrobras entre os anos de 2009 e 2018.
Críticas dos filhos
Em agosto, o filho de Jair Bolsonaro e senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) fez críticas à operação Lava Jato em entrevista ao jornal O Globo. O parlamentar defendeu a atuação de Augusto Aras, que também teceu críticas à Lava Jato e chegou a falar em uma necessidade de “corrigir rumos”.
“[Augusto] Aras [procurador-geral da República] tem feito um trabalho de fazer com que a lei valha para todos. Embora não ache que a Lava-Jato seja esse corpo homogêneo, considero que pontualmente algumas pessoas ali têm interesse político ou financeiro. Se tivesse desmonte das investigações no Brasil, não íamos estar presenciando essa quantidade toda de operações”, disse Flávio.
Com informações do Estadão, G1 e O Globo