
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich afirmou que deixou o cargo diante de pressões do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) pela “ampliação do uso da cloroquina” no combate à Covid-19. O medicamento não tem comprovação científica contra o coronavírus e pode gerar efeitos colaterais caso tomado indevidamente.
“O pedido específico [de demissão] foi pelo desejo [do governo] de ampliação do uso de cloroquina. Esse era o problema pontual. Mas isso refletia uma falta de autonomia e uma falta de liderança.”
Nelson Teich
A declaração do ex-ministro foi dada nesta quarta (5), em depoimento prestado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado.
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O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), repercutiu a fala de Teich. Molon também cobrou da CPI investigação sobre os motivos que levaram o governo a adotar uma postura tão incisiva em favor de um medicamento sem eficácia contra o coronavírus.
Cloroquina era um ponto na falta de autonomia
Ainda de acordo com Teich, a falta de autonomia para conduzir a pasta contribuiu para que ele pedisse demissão. Ele entregou o comando da Saúde depois de passar apenas 28 dias, entre abril e maio do ano passado, no cargo.
Nelson Teich sucedeu Luiz Eduardo Mandetta, demitido pelo presidente da República.
Por reinteradas vezes, ao longo da CPI, Teich precisou rebater argumentos de deputados bolsonaristas sobre o uso da Cloroquina. Ele afirmou que a convicção que tinha sobre a ineficácia do medicamento é baseada em estudos científicos.
“As razões da minha saída do ministério são públicas, elas se devem basicamente a constatação de que eu não teria autonomia e liderança que imaginava indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação as divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da Covid-19, enquanto minha convicção pessoal, baseada nos estudos, que naquele momento não existia evidência de sua eficácia para liberar.”
Nelson Teich
O ex-ministro também foi interrogado sobre a nomeação de Eduardo Pazuello para secretário-executivo da pasta. A resposta foi que o general do Exercito havia sido indicado pelo presidente.
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De maneira semelhante, Nelson Teich afirmou que enquanto esteve no Ministério da Saúde foi contra a ideia de imunidade de rebanho para controlar a infecção. A estratégia era defendida por Bolsonaro que, por mais de uma vez, criticou o isolamento social alegando a necessidade de que mais da metade da população adquirisse uma imunidade natural.