
Em 37,8% dos lares brasileiros com crianças com idade até 10 anos a fome é uma realidade com a redução da quantidade e da qualidade da alimentação. Na média nacional, o problema atinge 30,7% dos lares.
Os dados são do levantamento realizado pela Rede Penssan, que reúne entidades como Ação da Cidadania, Oxfam, Vox Populi e Actionaid e divulgado pelo O Globo. Foram 12.745 domicílios visitados.
O estudo também mostrou a desigualdade regional no país. No Maranhão, 63,3% das casas com crianças sofrem com a fome e a insegurança alimentar. No Espírito Santo, são 13,9%.
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“É preciso uma política de enfrentamento com foco na infância, conforme demonstrado nos dados. Elas estão sofrendo mais intensamente. A falta de alimentação adequada nessa fase da infância, com sacrifício de outros membros da família, provoca comprometimentos futuros, físicos e cognitivos”, afirma Francisco Menezes, consultor de políticas públicas da Actionaid.
Somado a isso, o Auxílio Brasil é o mesmo valor independentemente do número de integrantes da família, diferentemente do Bolsa Família, extinto por Jair Bolsonaro (PL) pelo programa eleitoreiro lançado por ele.
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O formato do programa prejudica ainda mais os lares com crianças, “principalmente pelo expressivo número de mães solo com filhos”, alerta Menezes.
Merenda mais pobre
A redução do dinheiro destinado pelo governo à merenda escolar é outro agravante. Bolsonaro vetou 34% da verba da alimentação infantil nas escolas para garantir o pagamento do orçamento secreto, que coloca bilhões nas mãos dos parlamentares aliados ao governo de maneira nada transparente.
“Quando o Brasil saiu do mapa da fome, a alimentação escolar teve papel importante. A alimentação na escola vai piorando, com a substituição de alimentos de melhor qualidade nutricional para ultraprocessados, mais baratos”, afirmou Menezes.
Somado a isso, a trágica política econômica que fez a alta dos alimentos passar 43% desde o início da pandemia, em 2020.
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“A fome é mais gritante nas casas nas quais a mulher é responsável pela família com crianças. É retrato que vejo todo dia”, disse Kiko Afonso, executivo da Ação da Cidadania.