Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) expõe que, durante a pandemia da Covid-19, a população que vive abaixo da linha da pobreza no Brasil triplicou. O número, que era de 9,5 milhões de pessoas em agosto de 2020, passou para mais de 27 milhões em fevereiro de 2021.
Essas famílias tentam viver com o valor de R$ 246 por mês. O fim do auxílio emergencial, em dezembro de 2020, influenciou nos números. Em levantamento de janeiro deste ano, 12,8% dos brasileiros estavam abaixo da linha pobreza.
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Pesquisadores afirmam que os altos níveis de desemprego e a ausência de políticas públicas dificultaram o acesso à renda, conduzindo para o pior cenário da pobreza no Brasil, nos últimos dez anos. Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), somente o estado do Rio de Janeiro acumulou mais de um milhão de demissões em postos de empregos formais de março de 2020 a fevereiro de 2021.
Auxílio insuficiente
A nova pesquisa da FVG, divulgada nesta quinta-feira (8), mostra que com o novo auxílio emergencial — que não garante nem um terço da cesta básica —, mais de 40% dos trabalhadores não conseguirão ter a perda de renda compensada após o tempo de interrupção do benefício. Ao considerar o repasse do valor de R$ 150, a estimativa é de que a perda de renda será de 2% para os homens e de 4% para as mulheres. Isso pode agravar ainda mais a situação da fome.
Além disso, em 2020 o governo deu o auxílio a quase 68 milhões de brasileiros, mas em 2021 o público é de 45,6 milhões. Houve um corte superior a 22 milhões de pessoas (o equivalente a um terço do total) nesse período.
O estudo ainda revela que trabalhadores de todos os estados sofrerão com perdas de renda ainda que a família esteja apta a receber a parcela de R$250.
O número de pessoas desempregadas no Brasil foi estimado em 14,3 milhões no trimestre encerrado em janeiro. Esse é o maior contingente desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pobres mais pobres, ricos mais ricos
O aumento de brasileiros abaixo da linha da pobreza não é o único dado alarmante. Nesta semana, o Brasil também registrou dois índices que mostram o crescimento da desigualdade social. Enquanto o número de bilionários saltou de 45 para 65, entre 2020 e 2021, o país atingiu a marca de 19,1 milhões de famintos no fim do ano passado, o equivalente a 9% da população — a maior taxa desde 2004, quando este número chegou a 9,5%.
A pesquisa sobre a condição alimentar do brasileiro foi realizada no terceiro trimestre de 2020, no período em que o governo federal reduziu o auxílio emergencial para uma faixa entre R$ 300 e R$ 600 por domicílio.
A divulgação dos novos bilionários da Forbes ocorreu no mesmo dia em que o governo brasileiro retomou o pagamento do auxílio emergencial. Os valores oferecidos diminuíram em relação ao início da pandemia.
Fome no Brasil
Na última segunda (5), a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), divulgou o “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19” que mostra que 19,1 milhões de brasileiros, o equivalente à população da Grande São Paulo, não têm o que comer.
A resultado da pesquisa da Rede Penssan mostra as desigualdades sociais de um país em que o IBGE previu para este ano safra recorde de cereais, leguminosas e oleaginosas. De acordo com a previsão divulgada em fevereiro passado, o país deve produzir 262,2 milhões de toneladas, resultado 3,2% superior ao registrado no ano passado.
Um desempenho e tanto para tempos de pandemia com auxílio emergencial de R$ 150, que não garante nem um terço da cesta básica, economia congelada e desemprego em alta. Nesse cenários, milhões de brasileiros empurrados para a pobreza extrema e de fome .