
Nesta quinta-feira (29), o parlamento europeu se reuniu para tratar exclusivamente da pandemia da Covid-19 na América Latina. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi duramente criticado pelos eurodeputados e considerado em algumas falas como “não apenas um perigo para o Brasil, mas para o mundo inteiro”. O mandatário brasileiro ainda foi considerado responsável direto pelo avanço da pandemia no país, no dia em que o número de mortes passou de 400 mil.
Os parlamentares aprovaram, por maioria absoluta, uma resolução recomendando que autoridades que fizeram campanhas de desinformação sejam processadas e levadas à Justiça. O documento, apesar de não implicar em uma obrigação legal, é visto como um sinal de isolamento e desgaste do Brasil e de Bolsonaro no cenário europeu.
Europeus criticam negacionismo
A resolução, que pede a ajuda dos europeus para o Brasil e região, demonstra a insatisfação do parlamento em relação à politização da pandemia. O texto condena a “retórica negacionista ou a minimização da gravidade da situação pelos Chefes de Estado e de Governo, e apela aos líderes políticos para agirem de forma responsável a fim de evitar novas escaladas”.
O texto ainda expressa preocupação com campanhas de desinformação relacionadas com a pandemia e apela às autoridades para “identificarem e perseguirem legalmente as entidades que perpetram tais ações”. ressaltam ainda a necessidade de uma maior luta contra a “desinformação online, notícias falsas e pseudociência”, apontando esses fatores como “grandes motores da pandemia na América Latina”.
Bolsonaro é responsabilizado
Apesar de o documento oficial não citar nomes, os parlamentares utilizaram o espaço do debate para criticar as ações do governo brasileiro diante da pandemia. Muitos deputados e deputadas responsabilizaram o presidente do Brasil pelo número de mortes e pelo país estar hoje sendo considerado uma “incubadora de novas cepas do vírus”, a partir das atitudes negacionistas e de ataque à ciência de Bolsonaro.
Segundo a deputada Maria Manuel Leitão, do Partido Socialista português, a pandemia castigou proporcionalmente mais a América Latina, que possui 8,4% da população mundial, mas já conta 25% das mortes totais causadas pela Covid-19. “Precisamos ajudar na compra, produção e distribuição de vacinas e no combate à desinformação”, afirmou.
Bolsonaro ainda foi acusado pela deputada alemã Anna Cavazzani por deliberadamente adotar uma estratégia de recusa ao combate ao vírus. Segundo ela, a tragédia sanitária no Brasil poderia ter sido evitada.
“Bolsonaro, desde o começo, se recusou a tomar medidas com base científica, encorajou manifestações de massa, questionou a vacinação, foi à Justiça contra governadores que decretaram medidas de confinamento, e quase 400 mil pessoas estão mortas.”
Anna Cavazzani
A deputada portuguesa Isabel Santos da social-democracia concorda com a ideia de deliberação do presidente brasileiro. Ela considera que, ao ter “feito de tudo para a população não ser vacinada”, Bolsonaro teria tomado uma atitude de “irresponsabilidade deliberada”. Para Isabel, “o tempo e o povo irão julgá-lo”.
Centro-direita também concorda
Mesmo entre parlamentares de centro-direita, o negacionismo foi condenado. Os deputados não mencionaram Bolsonaro, utilizando frases como “líderes negacionistas que cometeram inumeráveis erros” no lugar. A centro-direita europeia no parlamento ainda apontou erros da Europa no combate ao vírus.
Alguns parlamentares ainda sugeriram a cooperação no lugar da tentativa de “dar lições à América Latina”, como levantado pelo deputado espanhol Jordi Canas e apoiado por outros deputados, entre eles Joachim Stanislaw Brudzinski, da Polônia, José Manuel Fernandes, de Portugal, Leopoldo Gil, da Espanha, e Paulo Rangel, de Portugal.
Com informações de O Globo