A falta de mulheres na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal que investiga a condução da pandemia pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e a aplicação de recursos federais no enfrentamento à Covid-19 por entes federativos é motivo de crítica entre as senadoras.
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Inclusive da senadora Leila Barros (Leila do Vôlei) (PSB-DF), que marcou presença na primeira reunião do colegiado na quinta-feira (28). A parlamentar socialista defendeu o papel das mulheres na Casa.
“Diferentemente de alguns, a bancada feminina do Senado não é negacionista, acredita na ciência, no uso de máscaras, no isolamento social e apoia as medidas de combate à pandemia. Nós, as mulheres, e a grande maioria aqui defendem a vida.”
Leila Barros
Bancada feminina acompanhará CPI da Pandemia
Embora nenhuma senadora tenha sido indicada para a comissão, a bancada feminina decidiu participar das investigações. A ideia é que pelo menos uma parlamentar acompanhe presencialmente as sessões do colegiado. A líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS), avalia que a atuação das mulheres será decisiva no resultado da CPI.
‘‘A bancada feminina não tem direito a indicar um membro, mas isso não nos impedirá da nossa plena obrigação de sermos vigilantes, e da nossa obrigação de investigarmos erros e omissões de quem quer que seja.”
Simone Tebet
As senadoras não poderão apresentar requerimentos e nem votar, prerrogativa dos integrantes da CPI, mas poderão fazer perguntas durante as audiências públicas.
Fala machista de Flávio Bolsonaro
No primeiro dia de trabalho da CPI da Pandemia, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Bolsonaro (sem partido), abriu com uma fala machista. Ele disse que as mulheres “já foram mais respeitadas e mais indignadas” e “não fazem nem questão de estar” no colegiago. Para ele, as mulheres se “conformam em acompanhar os trabalhos à distância”.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) rebateu a declaração machista de Bolsonaro e afirmou que empurrar a porta, bater o pé na porta, gritar não é a única forma de se indignar. Disse ainda nenhuma das senadoras vai admitir ironia machista em relação às mulheres. Nós estamos aqui, vamos participar ativamente e teremos o nosso protagonismo nesta Casa.
Vossa Excelência falou de indignação, mas as mulheres têm, aliás, com muita eficiência, se indignado, inclusive agora, em relação a essa inação do governo federal em relação à pandemia. E o que nós queremos aqui nesta Comissão, independentemente de ser homem ou de ser mulher, é trazer à tona a verdade.
Eliziane Gama
Poucas mulheres na política
A ausência feminina na CPI é um recorte da baixa representatividade feminina no Legislativo. Segundo a professora de Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB) Flavia Biroli, o acesso a posições de mais destaque na Câmara e no Senado é ainda mais difícil, diz
“O acesso das mulheres a comissões e cargos dentro do Congresso, que são importantes tanto pela influência que elas podem ter ocupando esses cargos tanto quanto pelo fato de que gera visibilidade, é um acesso ainda mais reduzido do que o acesso delas à própria Casa”, diz. “Esse grupo completamente masculino na CPI só confirma como tem sido esse processo, historicamente, de exclusão.”
A cientista política Letícia Medeiros, co-fundadora da ONG Elas no Poder, que atua para ampliar a participação das mulheres na política, diz que a busca por diversidade nos espaços de poder vai muito além dos números.
“Essa composição diz muito sobre o quanto as instituições e os parlamentares eleitos ainda não entendem que diversidade no processo de diagnóstico, de análise, de produção de política pública é essencial para ter mais qualidade na tomada de decisão.”
Letícia Medeiros, Elas no Poder
Para defender a importância da diversidade, Medeiros destaca a influência das trajetórias e vivências pessoais de políticos nos processos de decisão. A falta de mulheres na comissão que vai tratar dos efeitos da pandemia no Brasil é marcante mesmo se comparada à baixa proporção de senadoras na Casa.
Se a CPI tivesse uma composição que refletisse a proporção de mulheres eleitas para o Senado, teria 2 senadoras titulares e uma suplente. Dos 81 parlamentares em exercício no Senado, apenas 12 são mulheres (menos de 15%). A proporção é muito diferente das ruas: o número de mulheres (51,8%) na população brasileira supera o de homens (48,2%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com informações da Agência Senado