Todos reconhecemos que o nosso candidato, Lula, não teve a melhor performance no primeiro debate televisivo de 2022. Ciro Gomes e Simone Tebet saíram-se melhor e, para nossa sorte, o presidente Jair Bolsonaro foi o pior quando reafirmou sua misoginia e sua inclinação para a mentira.
Acho que no terreno da performance, Lula com sua equipe de comunicação pode com relativa facilidade corrigir os problemas e eliminar os déficits que resultaram no seu desempenho sofrível no debate.
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Lula tem uma incrível vantagem sobre os concorrentes. Uma vantagem que vai além da experiência dos seus longos anos de política: a autenticidade e a visceral capacidade de ser o que é frente aos poderosos e aos mais simples cidadãos.
Tem um raciocínio rápido que lhe possibilitou a brilhante resposta à senadora Soraya Tronicke : “ A senhora não se lembra, mas sua empregada doméstica e seu jardineiro se lembram …”.
Lula e sua equipe de comunicação saberão corrigir os déficits de argumentação que se revelaram logo na primeira investida de Bolsonaro sobre corrupção, inclusive retomando a linha de raciocínio da entrevista no Jornal Nacional sobre o mesmo tema com o reconhecimento e as providências.
Poderia até começar com uma pergunta: ”em que governo na história não se observaram casos de corrupção “? E emendar com a sua já conhecida peroração sobre as medidas de apuração e punição dos culpados.
Embora todos preferíssemos que Lula tivesse se saído melhor, como na entrevista do Jornal Nacional da TV Globo, acho que ele superará tranquilamente o déficit performático registrado nesse primeiro debate.
Também no terreno da política imediata e prática, Lula está no caminho certo. Ressalta o valor da união de quase toda a esquerda em torno do seu nome, faz aberturas ao centro, valoriza Alckmin e ainda acena para o único partido de razoável porte na esquerda que lhe falta, convidando, publicamente, o PDT para participar do seu eventual futuro governo.
Mas esse é o terceiro ou quarto texto meu em que procuro registrar uma questão estratégica não apenas da comunicação, mas de toda a campanha de Lula e Alckmin. A questão política central e estratégica de que por mais importante que seja o legado de seus governos e por mais fácil que seja a comparação dos seus governos com o atual, não se constrói uma vitória apenas com o passado.
E não é suficiente dizer apenas que tem o compromisso de fazer melhor, se esse melhor é demonstrado apenas com exemplos do passado. Até porque não faltarão vozes para apontar que se esse passado teve muitos acertos, principalmente em relação aos pobres, teve também muitos erros como a ausência de reformas estruturais e a manutenção dos absurdos privilégios do sistema financeiro.
Entendo que a campanha Lula-Alckmin precisa se referir ao Brasil de hoje, à era do conhecimento, à “sociedade em rede” definida por Manuel Castells e que se estabeleceu a partir da revolução tecnológica e da comunicação digital. Uma sociedade que gerou novas formas de desigualdade e de exploração do trabalho.
Além do esforço que temos realizado, eu e meu companheiro Alexandre Navarro, junto à Comissão de Programa de Governo coordenada por Aloisio Mercadante, para introduzir alguns temas da atualidade no programa da chapa Lula Alckmin, o PSB apresentou um documento com o resumo de nossas contribuições para o governo em caso de vitória eleitoral.
Esse documento se inicia pedindo licença para apresentar a Premissa da Criatividade que ao nosso ver constituiu-se na mola propulsora de uma economia crescentemente desmaterializada. Apesar de ter se transformado numa palavra da “moda”, a criatividade constitui-se, realmente, num fator de grande significado para as novas gerações digitais.
Propomos, também, a definição de um claro projeto nacional de desenvolvimento nacional que resumimos no novo Programa do PSB como “Brasil , Potência Criativa e Sustentável “.
Defendemos um novo modelo de desenvolvimento que tenha como eixo a inovação e a economia criativa, compatível com o que diz o economista Ladislau Dowbor [DL1] , sobre “a mudança de paradigma da organização econômica e social, fruto da revolução digital e de um conjunto de transformações aceleradas em curso “.
Sugerimos, enfim, algumas ideias sobre Cidades Criativas, a Amazônia 4.0, Segurança Alimentar, segurança pública, reforma do estado, reforma política e reforma tributária. Finalizamos com a proposição um tanto utópica, mas necessária, que é o Direito à Felicidade.
Algumas dessas propostas creio que estarão parcial ou integralmente fazendo parte do Programa de Governo Lula-Alckmin. Mas isso é insuficiente. Seria necessário incorporá-las à estratégia política dos candidatos. Serem destacadas na comunicação a partir de uma reformulação do discurso político.
Consubstanciarem a “revolução pacífica” citada por Lula. E, talvez, sonho meu, passarem a fazer parte da verdadeira Revolução Brasileira pensada por Caio Prado Junior em outro momento histórico mas ainda tão viva.