Reportagem do jornal Baiano A TARDE lembra que em tempos de pandemia, muito se fala em criatividade. Mas o que nem todo mundo sabe é que o segmento de economia criativa é um dos 14 mais impactados pela crise do novo coronavírus, segundo mapeamento do Sebrae.
O setor, que inclui negócios pautados em conhecimentos individuais – como desenvolvimento de novas mídias, artes, design, eventos e celebrações -, precisa mais do que nunca fazer jus ao seu nome e se reinventar. Para isso, o desenvolvimento de novos serviços e o uso de plataformas digitais têm sido grandes aliados.
De acordo com as gestoras de economia criativa do Sebrae Nacional, Denise Marques e Jane Blandina, a área desse segmento que será mais afetada é a de eventos que dependem de bilheteria para sobreviver. O eventólogo Rodrigo Tsêdec concorda com esse dado, mas garante que o setor tem se readaptado, tentando migrar eventos que seriam presenciais para o digital.
Rodrigo, por exemplo, apesar de nunca ter trabalhado com a modalidade online, conseguiu adequar um de seus contratos. Para isso, ele projeta o uso de plataformas de lives e de eventos online, o envio de materiais por e-mails e pelo Correio.
“Não é todo evento que dá para migrar. Mas quando é possível, tem sua vantagens. Permite captar um público maior do que seria possível presencialmente, estender a quantidade de dias sem aumentar tanto os custos. Os eventos virtuais acabam barateando o custa da execução de um projeto”, conta.
Também da área de eventos, Vera Pontes, responsável pela produção de feiras de moda, enxergou na tecnologia uma saída. Depois de 30 anos com eventos presenciais, onde microempresários apresentavam seus produtos para lojistas e consumidores, a produtora desenvolveu uma plataforma de merketplace, um portal de vendas online colaborativo, para que a feira continue funcionando mesmo durante a pandemia. Os fabricantes terão uma espécie de estandes virtuais, onde vão expor seus produtos e receber pedidos.
“Antes da pandemia, os participantes já estavam desenvolvendo novas coleções. A plataforma é para ajudá-los nesse momento, mas também vai se manter ativa. As feiras vão continuar de seis em seis meses e durante todo o ano teremos essa plataforma”, explica Vera.
As gestoras do Sebrae Nacional revelam que, não só como solução para o segmento de eventos, mas também para outras áreas de economia criativa, a tecnologia tem sido um aliado. “Muitos criativos, por exemplo, estão dando aulas online, as lives também têm sido usadas como um recurso recorrente pelos músicos”. Foi pensando nisso que o CEO da startup Safeticket, Uasden Ferreira, criou a Apresente, uma plataforma de venda de ingressos para lives.
Uasden trabalhava gerando aglomeração. Seu negócio era a venda online de ingressos para shows e espetáculos. Com a suspensão desses eventos e consequentemente queda no faturamento, ele realizou uma pesquisa e percebeu que 83% dos artistas estavam sem renda nesse momento de pandemia, foi então que surgiu a ideia da nova plataforma. A intenção, segundo o CEO, é monetizar apresentações online de artistas independentes.
Assim, empreendedores do segmento artístico de economia criativa, como músicos, poetas, bailarinos, comediantes e atores, podem agendar data e horário da sua live e colocar os tickets à venda. Após a compra, o consumidor receberá uma autorização por e-mail para assistir à live e o valor, no dia seguinte, é repassado para o artista.
Novos modelos
Outra iniciativa para enfrentar o momento tem sido remodelar os serviços. Eva e Rafael dos Santos são celebrantes de casamentos e ocasiões especiais. Normalmente os noivos contam suas histórias para o casal e eles levam palavras de afeto para o evento. Com o reagendamento de 60 festas, eles precisaram criar um novo produto. Agora oferecem vídeos com mensagens personalizadas para presentear ou homenagear alguém.
A ideia, segundo Rafael, surgiu para tentar sobreviver à crise, “para que os clientes vejam que a empresa continua de pé e também para aproximar as pessoas nesse momento”. O faturamento com o novo serviço ainda corresponde a 40% da média antes da pandemia, mas o celebrante garante que já é uma ajuda.
Quem também precisou redirecionar seus serviços foi a artista e ilustradora Lara Robatto. Ela trabalhava fazendo lettering e aquarela em paredes. Sem poder ir aos locais, Lara ficou só com os contratos que já havia fechado, mas não conseguia executá-los.
A proximidade Dia das Mães fez Lara perceber uma oportunidade para oferecer aquarelas em papel presentes. Foram 20 encomendas para a data, o dobro do que ela tinha estipulado como meta. Mas o novo produto também exigiu planejamento da artista.
“O presente em si seria só um pedaço de papel, então tive que investir. Consegui um fornecedor de molduras, desenvolvi uma embalagem, precifiquei, comecei a divulgar nas redes sociais e atrelei a uma campanha de ajuda a uma ONG, porque não é um momento de vender só alegria”, conta a artista.
Lara revela que seu foco era o trabalho com paredes porque rendia maior lucro. Mas a perspectiva dela é em junho, com o Dia dos Namorados, igualar o faturamento aos meses anteriores à pandemia.