
Em novo relatório sobre a economia brasileira divulgado nesta quarta-feira (2) o Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda que o Brasil mantenha “o teto de gastos constitucional como uma âncora fiscal para apoiar a confiança do mercado”. O órgão alerta, no entanto, que isso não pode ser feito às custas da retirada abrupta de medidas fiscais de apoio à economia em meio à pandemia, como o auxílio emergencial.
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E que o país deve estar preparado para esticar tais medidas por mais tempo, em 2021, “no caso de as condições econômicas se mostrarem significativamente piores do que o esperado”.
FMI aponta crescimento tímido
A expectativa dos analistas do FMI é que o Brasil cresça 2,8% em 2021, após uma contração de 5,8% da economia em 2020.
De acordo com o relatório, o país atravessou dificuldades para retomar o ritmo de crescimento após a crise de 2015-2016, mas parecia ter boas bases para um crescimento mais significativo em 2020, o que não se concretizou por causa da pandemia do novo coronavírus, que já infectou mais de 5 milhões de brasileiros e matou mais de 170 mil.
O FMI elogia as medidas tomadas pelo país para reagir ao impacto da Covid-19. “A resposta do governo à crise foi rápida e considerável. As autoridades implementaram programas emergenciais de transferência de renda e retenção de empregos, aumento dos gastos com saúde, apoio financeiro aos governos locais e linhas de crédito para pequenas empresas”, diz o documento.
Auxílio emergencial
Desde abril, o governo federal tem distribuído um auxílio emergencial, cujo valor inicial era de R$600, a famílias que perderam renda durante a crise sanitária e econômica. A estimativa é de que mais de 60 milhões de pessoas tenham sido alcançadas pelo benefício.
O governo, no entanto, lida atualmente com o dilema sobre como manter algum tipo de transferência de renda mais robusta nos próximos meses, dado o custo do programa e o aperto nas contas públicas. Diferentes formas de custeio foram apresentadas e rechaçadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Não vou tirar dos pobres para dar aos paupérrimos”, afirmou Bolsonaro em mais de uma ocasião. Entre as propostas formuladas pelo Ministério da Economia, sob a tutela de Paulo Guedes, estavam medidas como corte em reajuste de aposentadorias e pensões e o fim do abono salarial.
Popularidade de Bolsonaro
O tema se tornou ainda mais sensível diante do fato de que a popularidade do presidente reagiu positivamente ao início da assistência financeira.
Recentemente, dada a redução do valor do benefício para R$ 300 e a possibilidade de que a transferência seja interrompida, a aprovação a Bolsonaro inverteu de tendência e vem caindo.
A extinção do auxílio emergencial poderia lançar 15 milhões de brasileiros na pobreza. Parte dos auxiliares do presidente passaram a flertar com o furo no teto de gastos para garantir a manutenção do programa. Há cerca de dez dias, questionado sobre a possibilidade de prorrogação do auxílio emergencial, Bolsonaro respondeu: “pergunta pro vírus”.
Com informações da Folha de S. Paulo