Com a intenção de apagar o passado anti-vacina, o governo de Jair Bolsonaro já gastou mais de R$ 32,2 milhões com a veiculação de comerciais para divulgar a campanha de imunização contra a Covid-19 em emissoras de televisão aberta, em 2021. Do fim de janeiro até o início de março, foram R$ 17,8 milhões. Na segunda fase da campanha, iniciada em 16 de março, desembolsou mais R$ 14,4 milhões.
De acordo com o portal Poder 360, entre as emissoras contempladas com os recursos, a Rede Globo foi a que mais recebeu dinheiro do governo, pois é a detentora da maior audiência no país. Em 2021, a empresa da família Marinho já embolsou R$ 9,8 milhões de campanhas do governo sobre o coronavírus. Está quase empatada com a TV Record — pertencente ao bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e tem proximidade com o Palácio do Planalto —, que teve R$ 9,6 milhões de verbas da campanha sobre vacinas neste ano.
Em seguida vem o SBT, do empresário e apresentador Silvio Santos, com R$ 9,09 milhões. A TV Band e a RedeTV, abocanharam juntas mais de R$ 3,43 milhões. Por fim, foi destinado R$ 380 mil a rede de televisão pública TV Brasil.
Acabou a mamata?
Jair Bolsonaro é forte crítico da destinação de verbas governamentais a emissoras de televisão, em especial à Globo. Segundo ele, o grupo recebia além do que seria compatível com sua fatia na audiência nacional. O chefe do Executivo disse, em 7 de janeiro deste ano, que “acabou a teta do governo” para a rede Globo, além de desferir xingamentos ao jornalista William Bonner. No mesmo mês, recorreu à emissora para veicular peças publicitárias.
Confira abaixo o discurso do mandatário:
No mais recente comercial aprovado pelo Ministério da Saúde, e que está no ar desde 16 de março nas emissoras de TV aberta, o governo federal defende a vacinação em massa, pede que a população lave as mãos com frequência, use máscaras ao sair de casa e evite aglomerações.
Veja abaixo:
Contradição de Bolsonaro
Chama a atenção que a campanha publicitária também desaconselha aglomerações. Bolsonaro costuma participar de eventos com aglomerações com frequência. Nos fins de semana, visita regiões administrativas de Brasília, abraça apoiadores e anda no meio de multidões. No Palácio do Planalto, o uso de máscaras passou a ser adotado há pouco tempo.
Em 10 de março, o presidente e todos os integrantes do governo usaram o equipamento durante um evento para sancionar medidas que ampliavam a capacidade de aquisição de vacinas contra a Covid-19. A prática não era comum e até desencorajada entre ministros e auxiliares do governo.
Vacina
Com o valor investido na divulgação dos comerciais, seria possível comprar mais de 1,6 milhões de doses da vacina da Oxford/AstraZeneca (U$3,16 por dose), 585 mil da Sputnik V e da CoronaVac (U$ 10 por dose) e 306 mil da Pfizer/BioNTech (U$19,50). As informações do valor das imunizações são da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).