Em uma ida ao mercado, não é estranho ver nas prateleiras sabão em pó com menos de 1kg, achocolatado em pó com menos de 400 gramas ou leite condensado virar mistura láctea. A prática não é nova, mas se intensificou durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Com as falhas tentativas de conter a inflação e o aumento “assustador” de itens básicos, como alimentos e gás de cozinha, as empresas passaram a ‘encolher’ ou ‘baratear a produção’ dos seus produtos, mas o preço para o consumidor permanece o mesmo ou até mais caro.
A prática de reduzir ou alterar as embalagens é chamada de reduflação — a aglutinação de “redução e inflação”. Mesmo que o preço final da embalagem seja mantido, como a quantidade é menor. Ou seja, na prática, o item ficou mais caro.
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A tendência capitalista acompanha o aumento geral nos preços de bens e serviços.
“Reduflação”
— ?? Nilto Tatto – #ForaBolsonaro ? (@NiltoTatto) May 30, 2022
Produtos seguem diminuindo tamanho, e qualidade também cai.@UOLEconomia https://t.co/EgEOXEofgL pic.twitter.com/cuCdnG1uUm
No ano passado, por exemplo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado como indicador oficial da inflação do país, fechou em 10,06%. Neste ano, o acumulado dos últimos 12 meses (até abril) já é de 12,13%.
E embora não tenha nada de ilegal, os brasileiros sofrem mais uma vez com o fenômeno de “pague o mesmo, leve menos”. Com as quantidades reduzidas e preços quase inalterados, a reduflação promove um impacto nos orçamentos familiares, especialmente agora com a crise alastrada e os altos valores de insumos básicos.
Insegurança alimentar
Com os avanços dos preços e a diminuição do poder de compra, não é de se estranhar o crescimento da insegurança alimentar no país.
Entretanto, o buraco é ainda maior. A segurança alimentar das famílias brasileiras sofreu um duro revés em 2021 em relação a 2019, quando no primeiro ano do governo Bolsonaro já estavam abaixo da linha da pobreza 23 milhões de brasileiros, ou 11% da população com renda de apenas R$ 290 por mês.
Em outubro de 2021, cerca de 27,6 milhões de pessoas estavam nessa situação, um acréscimo de 4,6 milhões de novos pobres na pandemia.
A parcela de brasileiros que em algum momento, em 12 meses, não teve dinheiro para se alimentar subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021. Foi a primeira vez que a insegurança alimentar brasileira superou a média simples mundial, atingindo novo recorde negativo da série iniciada em 2006.
Comparando a média simples de 120 países, no Brasil a insegurança alimentar subiu 4,48 pontos percentuais, um aumento percentual quatro vezes maior.
A análise faz parte do estudo “Insegurança Alimentar no Brasil: Pandemia, Tendências e Comparações Globais”, do economista Marcelo Neri da FGV Social, com dados do Gallup World Poll.
É de se considerar que a pandemia trouxe um impacto gigantesco nas condições alimentares das famílias, no entanto, a situação da economia, estagnada por Bolsonaro, e as próprias ações de combate aos efeitos da Covid-19 influenciaram nos resultado do estudo.
PIB cresce, mas Brasil está em queda livre
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1% no primeiro trimestre de 2022, frente aos três meses imediatamente anteriores.
E por mais que o desempenho tenha permanecido abaixo das expectativas do mercado financeiro, revela que a economia tende a dar “suspiros” de alívio com o arrefecimento da pandemia. Entrentanto, o chefe do Executivo prefere negligenciar a tomada de políticas eficazes na estabilidade, também, dentro da casa das famílias brasileiras.
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Enquanto isso, o desemprego permanece e atinge mais de 11,3 milhões de pessoas, gasolina e diesel com preços nas alturas e gás de cozinha beirando beirando os R$160. O número de brasileiros desalentados, ou seja, aqueles que já desistiram de procurar trabalho, aumentou e já soma 4,5 milhões de pessoas. E a população subutilizada foi estimada em 26,1 milhões de pessoas.