
O presidente Jair Bolsonaro sabe que, se o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) se eleger presidente da Câmara, dificilmente evitará o processo de impeachment. Para tentar escapar deste colapso, faz tudo para emplacar seu aliado Arthur Lira (PP-AL) no cargo. Para isso, oferece cargos federais de confiança nos Estados e até ministérios. O objetivo dele é rachar as bancadas de legendas de direita, principalmente DEM e MDB, que hoje formam a frente ampla que apoia a eleição de Baleia Rossi.
Com a caneta pronta para mandar usar o Orçamento em favor do seu candidato, Bolsonaro conseguiu rachar o DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e que apoia o candidato da frente ampla Baleia Rossi (MDB-SP). Os democratas da legenda defendem a independência do Palácio do Planalto. Mas os negacionistas racharam o partido.
O maior exemplo do negacionismo no DEM é o do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Bolsonaro teve uma rusga pública com Caiado por causa das medidas de combate à pandemia. Médico, Caiado defendia medidas sanitárias com base científicas. Mas depois de ter sido atacado por bolsonaristas do agronegócio, movimento forte em Goiás, e ter recebido verba federal para construir um Hospital de Campanha em Anápolis para doentes de coronavírus aderiu ao negacionismo do presidente.
No dia 13 de janeiro, o governador sancionou uma lei estadual negacionista que permite aos goianos não tomarem vacina contra o coronavírus. E vetou o artigo que permitia a criação de um sistema para cadastro a quem não quer tomar a vacina contra a Covid-19. A lei foi sancionada no dia que estado atinge a marca de 7 mil mortos pelo coronavírus.
Com verba e apoio dos bolsonaristas goianos, agora Caiado passou a tentar dissuadir deputados do DEM a abandonarem as lideranças do presidente da legenda, ACM Neto, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que lançaram e apoiam Baleia Rossi.
Outro dissidente do DEM que aderiu ao negacionismo bolsonarista do DEM é o deputado Elmar Nascimento (BA). O parlamentar almejava ser presidente da Comissão de Orçamento, mas foi preterido por Rodrigo Maia. Se enfureceu, abriu dissidência e passou a apoiar Lira com o sonho de, como Centrão, poderá ocupar um cargo importante nas Comissões permanentes.
Segundo o colunista Guilherme Amado, da Revista Época, em jantar com deputados federais paulistas na note de quarta-feira (20), Arthur Lira ofereceu ministérios e até a futura indicação para uma vaga no Tribunal de Contas da União. No MDB do Rio, segundo o jornal Valor Econômico, Lira pode ter o apoio de dois ou três dissidentes, bolsonaristas ligados ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e a grupos evangélicos, além do PSL.
Outro racha na Direita do MDB é a candidatura do deputado Fábio Ramalho (MDB-MG). Lobista de segmentos como mineração, tem poucas chances, apesar da sua prática clientelista dentro e fora do Congresso. Conhecido por oferecer jantares a congressistas e outras autoridades, Ramalho já foi da Mesa Diretora e tira votos de um segmento mais fisiologista e clientelista de várias bancadas de Direita.
Ministério
A uma das revelações da nova direita, o presidente do Senado, David Alcolumbre (DEM-AP), recebeu oferta de Bolsonaro para ocupar um ministério. Em troca, o parlamentar, que não vota na eleição da Câmara, conseguiria dissidentes no seu partido e em outras legendas de Direita para apoiar Lira.
Alcolumbre iria para a Secretaria de Governo, ministério responsável pela articulação política com o Congresso. O cargo tem gabinete no Palácio do Planalto para lustrar a vaidade e ajudar a distribuir as famosas emendas parlamentares aos aliados. A opção dele é ser vice-presidente do Senado. A Revista Época também cita que o Ministério da Saúde e outras pastas estão sendo ofertadas para atrair aliados.
Bolsonaro também conseguiu rachar o PSL, seu antigo partido. A legenda antes apoiava Baleia Rossi por influência do seu presidente, deputado Luciano Bivar (PSL-PE). Mas os bolsonaristas da sigla conseguiram retirar o apoio formal à frente pró Baleia Rossi, composta por partidos de esquerda, entre eles o PSB.
Placar na Câmara
A formalidade na divisão partidária na Câmara mostra que a candidatura de Baleia Rossi tem o apoio declarado de 11 partidos: PSB, PT, MDB, PSDB, DEM, PDT, Solidariedade, Cidadania, PCdoB, PV e Rede. Teoricamente, com 236 deputados. Lira tem apoio de 10 partidos, em tese, com 232 deputados: PSL, PL, PP, PSD, Republicanos, PTB, PROS, Podemos, PSC, Avante e Patriota. Mas o índice de dissidentes na história da disputa pelo cargo é elevado.