Após o anúncio de Wilson Ferreira Júnior deixará o cargo de presidente da Eletrobrás, parlamentares e especialistas apontam que o projeto de privatização da estatal estará necessariamente condicionado à escolha do novo nome que assumirá o comando da empresa.
De acordo com informações do jornal O Estado de S.Paulo, enquanto a área econômica do governo de Jair Bolsonaro busca um executivo que acredite na capitalização da companhia, o mundo político aposta na escolha de ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que, deixaria a pasta para dar lugar ao senador Eduardo Braga (MDB-AM), ex-ministro de Minas e Energia e contrário à venda da estatal.
Após sete privatizações, a renúncia
Na contramão das apostas, no entanto, Ferreira Jr. acredita em uma solução interna, que continue o processo iniciado por ele há quase cinco anos, período em que ele privatizou sete distribuidoras do grupo no Norte, Nordeste e Goiás. Na segunda-feira (25), em entrevista, o executivo confirmou que a dificuldade em aprovar a privatização da estatal no Congresso motivou sua renúncia do cargo.
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No governo, a saída de Ferreira Jr., uma semana antes das eleições para a presidência da Câmara e no Senado, que precisam dar aval à privatização, surpreendeu. O ministério da Economia, sob o comando do ministro Paulo Guedes, sabe que a definição do novo presidente da Eletrobrás é o que vai vai sinalizar ao mercado se a privatização andará.
De olho em 2024, quando o vencimento da concessão de Tucuruí reduzirá em 70% as receitas da subsidiária Eletronorte e, consequentemente, do grupo, o governo deve tentar se articulr. A proposta de privatização, parada no Congresso desde novembro de 2019, embutia uma renovação desse contrato por mais 30 anos.
“Entreguismo sem critério”
O anúncio da saída do presidente da estatal ocorreu ainda três dias depois do candidato apoiado pelo governo Jair Bolsonaro para o Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmar em entrevista que a privatização da Eletrobrás não seria prioridade em sua gestão.
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Ele não se comprometeu com prazos e afirmou ser contra o “entreguismo sem critério”. Os investidores reagiram na mesma hora, e as ações da companhia despencaram no mercado.
Chamou atenção o fato de que nem Bolsonaro, nem Albuquerque ou o ministro da Economia, Paulo Guedes, se pronunciaram após a declaração.
Escolha interna
Na conferência em que explicou sua saída, o executivo disse que a estatal conta com profissionais com capacidade para substituí-lo – como a diretora Financeira e de Relações com Investidores, Elvira Cavalcanti Presta – e afirmou que o conselho de administração pretende contratar uma consultoria para avaliar outros nomes de mercado.
Ele descartou a possibilidade de que o presidente do conselho, Ruy Flaks Schneider, oficial de reserva da Marinha, assuma o cargo.
Histórico na Eletrobrás
Wilson Ferreira Junior estava à frente da companhia desde 2016, quando foi nomeado pelo então presidente Michel Temer (MDB). O executivo é um dos principais defensores do plano de privatização da estatal, que enfrentou reveses ao longo dos anos e acabou não se concretizando.
O executivo chegou a se envolver em polêmicas no início da sua gestão. Em junho de 2017, a divulgação de uma conversa de Ferreira Júnior com sindicalistas gerou mal-estar na empresa, depois de o então presidente da companhia se referir a funcionários com adjetivos como “safados” e “vagabundos.”
Com informações do Estadão