Antes da chegada de Jair Bolsonaro (PL) à presidência, as Forças Armadas nunca haviam feito qualquer questionamento sobre o sistema de votação do país. Porém, os ataques constantes do atual ocupante do Palácio do Planalto, que repete inúmeras vezes ser o chefe ‘supremo’ das Forças, e a própria abertura ao diálogo concedida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se tornaram artilharia para o bolsonarismo.
Matéria da Folha, com base em informações obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostra que foram 25 anos de silêncio das Forças Armadas. Tradição quebrada a partir das tentativas de interferir e tumultuar o processo eleitoral implantadas por Bolsonaro desde que chegou ao poder.
A partir de 2021, foram 88 questionamentos feitos ao TSE pelos militares, além de sugestões de mudanças nas regas eleitorais. Antes, nenhum estudo sequer havia sido feito nesse sentido. As urnas eletrônicas são usadas nas votações em todo o país desde 1996.
As informações também foram confirmadas pelo TSE, via LAI, que não recebeu contribuições ou questionamentos do Ministério da Defesa antes de 2021.
Tentativa de apaziguar
O então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, convidou formalmente as Forças Armadas a participar da Comissão de Transparência das Eleições (CTE), que reúne diversas entidades, como representantes do Congresso Nacional, da Polícia Federal e especialistas de diversas entidades.
O intuito era apaziguar o tensionamento promovido por Bolsonaro. O problema é que ao invés de melhorar a situação, o convite do TSE deu ainda mais munição para os ataques.
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Isso porque, de acordo com técnicos do TSE, a maior parte dos questionamentos e sugestões dos militares não puderem ser acatados por questões técnicas e legais que, se modificadas, aí sim, colocariam as eleições em risco.
Os técnicos do tribunal também identificaram erros de cálculos e confusões de conceitos na análise dos militares.
Um dos questionamentos que chamou a atenção e que teve que ser respondido pela Corte eleitoral é sobre a inexistência da “sala secreta” para contagem dos votos, que Bolsonaro acusa rotineiramente sem provas e com ares de obscurantismo com a clara intenção de prejudicar o processo eleitoral.
‘Desprestigiados’
Na sexta-feira (10), nova incursão da Defesa contra o TSE, prontamente respondida pela Corte.
Em resposta ao ofício apresentado pelo Ministério da Defesa em que o governo Jair Bolsonaro afirma as Forças Armadas estão “desprestigiadas” no processo eleitoral, o TSE afirmou que “todas as contribuições sempre são bem-vindas e que preza pelo diálogo institucional que prestigie os valores republicanos e a legalidade constitucional”.
O tribunal destacou que o processo eleitoral passa por auditoria pública e que preza pela transparência, ao contrário do que as Forças Armadas tentam insinuar – de que haveria uma “sala secreta” de apuração”, tese bolsonarista.
“Além disso, relembre-se que, a qualquer tempo, é permitido aos partidos políticos fiscalizar todas as fases do processo de votação e apuração das eleições, bem como o processamento eletrônico da totalização dos resultados, conforme previsto pela Lei nº 9.504/1997, conhecida como Lei das Eleições. Para este ano, os procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema eletrônico de votação estão previstos na Resolução TSE nº 23.673/2021”, diz ainda.
No sábado (11), o TSE afirmou que aceitou total ou parcialmente 10 propostas entre 16 sugestões que estavam nos 88 questionamentos feitos pela Defesa.
Caminho à esquerda
A cooptação das forças de segurança pelo bolsonarismo deixou em alerta policiais progressistas que apoiam a candidatura Lula-Alckmin.
Eles querem reforço no diálogo com as categorias policiais para que as demandas sejam incluídas no plano de governo.
O vereador Leonel Radde (PT-RS), de Porto Alegre, é ex-policial civil e participou de um encontro com Lula com policiais, no final de maio.
O temor de Radde é que se esses profissionais não forem tratados como as demais categorias do funcionalismo público, a insubordinação seja um desafio real em um governo de esquerda.
Com informações do O Globo