Em três dias, o Brasil escolherá o próximo presidente da República. E com a proximidade do 2º turno das eleições, o desespero da equipe do presidente Jair Bolsonaro (PL) dá lugar ao clima de derrota. Após desenfreados ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e à Justiça brasileira, gastos milionários em publicidade nas redes sociais e o escândaloso caso de Roberto Jefferson contra a Polícia Federal (PF), a campanha do atual mandatário não teve exito na virada de votos e o ex-presidente Lula (PT) segue como favorito nas pesquisas eleitorais.
Em uma última investida, Bolsonaro tentou descridibilizar o processo eleitoral através de acusações que rádios, principalmente do Nordeste, não exibiram inserções do presidente no âmbito das propagandas eleitorais gratuitas.
A “bala de prata” mal chegou a ser disparada e se perdeu no limbo das narrativas falsas da campanha bolsonarista devido a rápida atuação do presidente do TSE, Alexandre de Moraes.
Agora, os bolsonaristas mudam o foco e, ao invés de promoverem a candidatura do atual presidente, protagonizam uma perseguição a Justiça Eleitoral e ao ministro-presidente. A tentativa não é impedir a vitória de Lula e sim fomentar que as eleições foram fraudadas sob o aval do TSE.
Ataques de Bolsonaro ao processo eleitoral
Desde o período de campanha eleitoral da sua primeira eleição, Jair Bolsonaro orquestra ataques ao processo eleitoral brasileiro. Inúmeras foram as vezes que o mandatário afirmou que houve fraude na disputa contra Fernando Haddad (PT), no pleito de 2018. Para ele, a vitória era no primeiro turno.
Foi daí que surgiu a primeira onda desinformativa sobre fraude em 2018, que sugeria que o PT tentava impedir a eleição de Bolsonaro. Dois dias depois da gravação, a alegação falsa de que o TSE teria entregado o código de segurança das urnas eletrônicas para uma empresa venezuelana foi compartilhada dezenas de milhares de vezes.
Na sequência, as redes bolsonaristas viralizaram a alegação de que a OEA (Organização dos Estados Americanos), um dos órgãos que fiscalizou o pleito, teria identificado fraudes nas urnas para beneficiar o PT. Na realidade, a organização constatou que os equipamentos de votação no Brasil eram seguros.
Em julho do ano passado, Bolsonaro promoveu uma live na qual prometeu apresentar as provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas. Contudo, durante o evento, ele comentou que “não tinha como se comprovar“.
Desde então, o presidente criou uma “racha” entre o governo federal e o TSE durante os quase quatro anos de mandato: defendeu o voto impresso; afirmou que as urnas eletrônicas não seriam auditáveis; disse que as urnas não seriam usadas em nenhum outro lugar do mundo; e que um ataque hacker a elas para alterar votos seria simples.
Ao assumir o Palácio do Planalto, Bolsonaro repetiu ao menos 84 alegações de fraude nas urnas eletrônicas ou sobre uma suposta fragilidade dos processos de votação no país. Nenhuma delas se provou verdadeira.
Atentado de Roberto Jefferson contra a PF
No último domingo (23), a campanha de Jair Bolsonaro levou um forte golpe no estômago. O ex-deputado bolsonarista Roberto Jefferson atirou contra uma viatura da Polícia Federal (PF) que cumpria mandado de prisão em sua casa. Em vídeos, o reacionário sugeriu que a população pegue em armas, tal como ele fez, e “resistam à opressão, resistam à tirania”.
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O caso repercurtiu de maneira homérica nas redes sociais e em veículos de notícias e atingiu como uma bomba a imagem de Bolsonaro. Militantes de esquerda acreditam que a ação de Jefferson foi “cortina de fumaça” — um evento ou ação para para esconder um mal maior —, arquiquetada por bolsonaristas.
A realidade é: se o atentado contra a PF fazia parte do plano, saiu pela culatra. O atual mandatário logo tratou de tentar se “descolar” de Roberto Jefferson: ele publicou um vídeo em suas redes sociais onde se manifesta sobre a prisão do ex-deputado e, de maneira protocolar, presta solidariedade aos policiais baleados.
A atitude desorientou o eleitorado bolsonarista. Um dos apoiadores de Bolsonaro comenta no vídeo e o reprova pelo fato de ter classificado Jefferson como “bandido“. “Chamar uma pessoa que está defendendo a própria liberdade ao ser ameaçado de prisão por xingar uma ministra, é demais”, criticou o apoiador do presidente.
Confesso que tô perdido. Estou há horas defendendo Roberto contra o STF…. nao era isso que era pra fazer???
— Sergio (@Sergipass) October 23, 2022
A bala de prata? Era alumínio
Enfraquecido e vendo a diferença entre Lula aumentar, de acordo com as pesquisas eleitorais, Bolsonaro partiu para o plano que “funcionou” durante todo o governo: atacar o TSE, focando no ministro-presidente Alexandre de Moraes. Novamente, saiu pela culatra.
O último factoide da campanha bolsonarista, com a alegação de que o candidato à reeleição teria sido prejudicado na transmissão de propaganda em rádios no Nordeste, não comoveu a Justiça Eleitoral. Alexandre de Moraes arquivou a queixa por não ver “qualquer indício mínimo de prova”.
Para completar, determinou que seus autores sejam investigados por tentativa de tumultuar o processo eleitoral.
O PSB também entrou com ação para conter a balbúrdia bolsonarista. O líder da legenda na Câmara, Bira do Pindaré (MA), encaminhou, nesta quarta-feira (26), requerimento de informações ao Ministério das Comunicações em que questiona o ministro da pasta, Fábio Faria, sobre o envolvimento com a campanha do presidente.
Agora, depois de dois golpes causados pelo seu entorno, Bolsonaro se vê enfraquecido e já assume tom derrotista. Entretanto, a tropa bolsonarista fascistóide persiste e faz ameaças violentas no cenário de vantagem de Lula no segundo turno.
Em gravações análisada pela Agência Pública, Jackson Villar da Silva, líder evangélico e organizador da motociata com o presidente Jair Bolsonaro em junho de 20201, afirma que será necessário “quebrar esquerdistas no cacete”, conclama seus seguidores a “quebrar a urna eletrônica no pau” e afirma que “cientista político tem que apanhar”.
As falas violentas de Villar sugerem ainda a um bolsonarista como lidar com quem vota em Lula: “Você tem que falar assim: ‘Os cara vão te ‘passar’ [expressão para matar], os cara vão caçar todo mundo que é petista. Você vai convencer uma alma sebosa com o medo, entendeu? Ele só respeita o cacete’.
Bolsonarismo não “morre” com saída de Bolsonaro
“Vamos ganhar as eleições, vamos derrotar Bolsonaro, mas o bolsonarismo está criado. Depois temos que conscientizar a sociedade para que ela não crie no bolsonarismo uma política definitiva”, afirmou Lula em evento com cristão no último dia 17.
A fala do petista é muito acertada. Com eventual derrota de Bolsonaro, Lula enfrentará forte resistência do Senado Federal e Câmara dos Deputados. Nesta eleição, candidatos alinhados ao atual presidente cresceram assustadoramente dentro do Congresso.
Além disso, o movimento de extrema direita seguirá vivo e será forte oposição ao novo ocupante do Palácio do Planalto. Caberá ao novo governo orquestrar estratégias para amenizar as divergências e articular tréguas com aqueles que foram contra a sua vitória.