O presidente Jair Bolsonaro (PL) oficializou o ex-ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, como seu vice na disputa das eleições presidenciais deste ano. A escolha de quem iria compor a chapa ao lado de Bolsonaro estava dividida entre Braga Netto e a ex-ministra da agricultura, Tereza Cristina (Progressistas), nome favorito do Centrão.
Braga Netto, por ser militar e serviçal do mandatário e ao projeto bolsonarista, é o favorito do presidente para participar da disputa. Além disso, para Bolsonaro, a escolha do militar é uma espécie de “seguro” para impedir um eventual impeachment, caso seja reeleito.
O general, considerado por aliados um “cumpridor de ordens” — em outras palavras, um pau-mandado —, foi ministro da Casa Civil em 2020 e ministro da Defesa em 2021. Ele também comandou a intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018. Filiou-se ao partido de Bolsonaro, o PL, em um ato privado, fechado ao público, em 28 de março.
Ao longo de sua passagem pelo governo, é lembrado por ameaças às eleições presidenciais, declarações polêmicas de exaltação da ditadura militar e embates durante a CPI da Covid. “Puro-suco” da gestão bolsonarista, Braga Netto coleciona motivos para ser observado com mais atenção. Confira:
Ameaça às eleições
Em julho de 2021, Braga Netto, então ministro da Defesa, condicionou a realização das eleições de 2022 ao voto impresso. O recado, repassado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi revelado pelo jornal Estadão.
No mesmo dia, Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, afirmou o presidente a apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada.
No dia 29 de setembro de 2021, o procurador-geral da República, Augusto Aras, abriu apuração preliminar contra Braga Netto pelas ameaças às eleições. A proposta pela adoção do voto impresso foi derrubada pelo Congresso Nacional.
Braga celebra ditadura militar
Enquanto líder do Ministério da Defesa, Walter Souza Braga Netto publicou uma ordem do dia celebrando o Golpe de Estado de 31 de março de 1964, que culminou na ditadura militar.
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Segundo ele, o golpe foi um “marco histórico da evolução política brasileira” e agiu para “restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil”, sem, no entanto, existirem evidências históricas que confirmem as afirmações.
Omissões durante pandemia
O Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a abertura de um processo, em abril de 2021, para investigar a conduta do general Braga Netto, durante o período que comandou a Casa Civil e coordenou o Comitê de Crise do Governo no combate à Covid-19.
O TCU apontou “graves omissões”, entre elas “não ter contribuído da forma que seria esperada para a preservação de vidas”, aponta o documento acessado pelo Estadão.
Entre as atribuições de Braga Netto, estavam articular e monitorar ações governamentais, bem como assessorar o presidente na pandemia. É exatamente no desempenho dessas atribuições que os auditores identificaram falhas.
A área técnica entendeu que o comitê de crise omitiu-se diante de temas cruciais, como no monitoramento do consumo de oxigênio, emissão de diagnóstico sobre a segunda onda de contaminação e em projeções sobre a disponibilidade de leitos para pacientes com a Covid-19.
Reação de Braga Netto após falas de Omar Aziz
O ministério da Defesa acusou o senador Omar Aziz, à época presidente da CPI da Covid e que criticou o “lado podre” das Forças Armadas por envolvimento em “falcatrua” no governo de Jair Bolsonaro, de desrespeitar as Forças Armadas e generalizar esquemas de corrupção.
“As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”, disse a instituição, em nota.
As investigações da CPI levantaram suspeitas de envolvimento de uma série de oficiais, da ativa e da reserva, em irregularidades durante a pandemia do novo coronavírus. Parte deles foi levada para o Ministério da Saúde durante a gestão de Eduardo Pazuello, ex-ministro alvo da CPI, enquanto outros estariam ligados a tentativas de venda de vacinas ao governo.
Distribuição de recursos
O general Walter Braga Netto também distribuiu mais de R$ 400 milhões de recursos do Ministério da Defesa para senadores apoiadores do presidente através do chamado “orçamento secreto”, esquema de alocação de recursos para aliados envolvendo a Câmara dos Deputados e o Governo Federal.
Levantamento feito por reportagem do jornal O Globo após a divulgação dos gastos do orçamento secreto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) mostra que R$ 588 milhões de recursos da Defesa foram definidos através das chamadas emendas de relator e que, muitas vezes, não tinham nada a ver com assuntos militares.
Desses, R$ 401 milhões foram para 11 senadores apoiadores do governo Bolsonaro.
Com informações do Estadão, O Globo e Folha