
O Ministério da Saúde planeja gastar R$ 250 milhões para oferecer de graça a hidroxicloroquina e a cloroquina no programa Farmácia Popular, com a distribuição do chamado “kit Covid”. Diferentes entidades já atestaram que os remédios não têm eficácia comprovada contra o coronavírus. O valor previsto no estudo sigiloso, que tramita desde julho, foi revelado pelo jornal Estado de S. Paulo nesta sexta-feira (11).
Leia também: Bolsonaro usa gráfico de banco de imagens para defender vermífugo contra Covid
Com alta de casos da Covid-19 em 21 estados e no Distrito Federal, além de idas e vindas no discurso sobre a política de imunização contra a Covid-19, chama atenção o o impacto orçamentário para a compra da hidroxicloroquina e da azitromicina descrito em um despacho da pasta, datado de 25 de setembro.
O valor foi autorizado pela Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, ainda segundo o documento, e aprovado pela assessoria jurídica da pasta. A proposta está no gabinete do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
A hipótese de distribuição de medicamentos sem eficácia comprovada – e que, no caso da hidroxicloroquina, pode, segundo estudos e especialistas, agravar o quadro de alguns pacientes da Covid-19 – foi confirmada publicamente pelo próprio Pazuello no dia 16 de setembro, após sua posse oficial no ministério depois de quatro meses como interino. A defesa intransigente do uso de remédios sem eficácia contra a Covid-19 pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) levou à queda de seus dois antecessores, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.
“Isso tá sendo discutido também no programa ‘Aqui tem Farmácia Popular’. Não só cloroquina, todos os medicamentos do ‘kit covid’ estão sendo discutidos para distribuir na Farmácia Popular”, disse Pazuello, na ocasião.
O programa prevê que farmácias conveniadas ofertem remédios de graça ou com até 90% de desconto. Para compensar o custo, os estabelecimentos são reembolsados pelo governo.
‘Kit Covid’ para baixar estoque
A partir das estimativas de laboratórios farmacêuticos, o valor previsto pela Saúde para o financiamento da distribuição de dois remédios sem eficácia contra a Covid-19 poderia, por exemplo, financiar 15,6 milhões de doses da vacina contra o coronavírus desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido) ou 4,4 milhões de doses da CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac Biotech, ambas testadas no Brasil.
Leia também: Médico criador do ‘Kit Covid’ morre após 45 dias internado com a doença
O país dispõe de um grande estoque de hidroxicloroquina e cloroquina, as principais apostas do Governo Bolsonaro contra a pandemia da Covid-19. Segundo o Estadão, havia mais de 400 mil unidades do medicamento produzidas pelo Laboratório do Exército em novembro. Em outubro, o jornal O Globo também mostrou que menos de 10% da cloroquina doada pelo governo dos Estados Unidos e por uma multinacional foi distribuída, de um total de 3 milhões de comprimidos.