Neste domingo (23), quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cumpre 600 dias de mandato, o governo já tem na ponta da língua o discurso que pretende vender: “os esforços empreendidos em cinco meses de enfrentamento do coronavírus”.
Convencido pelos resultados obtidos na última pesquisa Datafolha, que apontou aumento de sua aprovação, o presidente pretende marcar a data divulgando uma “bateria de resultados da política social tocada a partir do auxílio emergencial de R$ 600”.
Bolsonaro está convencido de que as medidas adotadas pelo governo, tanto na saúde quanto na economia, evitaram que o Brasil sucumbisse à pandemia. No fim do sábado, no entanto, o consórcio de veículos de imprensa mostrou que o país chegou aos 114.277 óbitos e 3.582.698 infectados, depois de somar novas 823 mortes e 46.210 novos casos confirmados da doença em apenas 24 horas.
Em seu discurso, Bolsonaro pretende reforçar que graças à sua gestão, 5,5 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza e que seu governo evitou que outros 26,5 milhões passassem à pobreza por causa por causa das demissões na pandemia. Ele também vai usar o auxílio emergencial — proposto e aprovado pelo Congresso, em substituição aos R$ 200 sugerido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes — pago a 126 milhões de brasileiros nesses meses de pandemia como “a maior estratégia de assistência da história do país”.
O mandatário foi muito bem preparado para rebater todas as críticas de opositores, sobretudo no que se refere às crescente mortes registradas no país, ao aumento do desemprego — 40 milhões de pessoas procuram trabalho — e à falência de empresas.
Veja os pontos sobre os quais o governo — em especial, o presidente — usará para tentar convencer os brasileiros e o mundo de que está no caminho certo, a ponto de hoje não ter nenhum candidato capaz de evitar a reeleição de Bolsonaro em 2022:
• Auxílio emergencial: de acordo com o governo, desde abril mais de 126 milhões de brasileiros de famílias em situação vulnerável, direta e indiretamente. O governo recorre a um estudo da Universidade de São Paulo (USP) para mostrar que o auxílio foi responsável pela retirada de 5,5 milhões de brasileiros da pobreza e por evitar que outras 26,5 milhões tivessem queda de rendimentos e passassem para a faixa da pobreza.
• Povos indígenas: em meio às denúncias de falta de apoio e de crescimento de casos da Covid-19 entre os povos indígenas, o Planalto afirma que destinou R$ 4,7 bilhões para o atendimento de povos e comunidades tradicionais (indígenas, ribeirinhos, quilombolas e ciganos), idosos, pessoas em situação de rua ou em áreas urbanas vulneráveis (Operação Acolhida em Roraima) e pessoas com deficiência.
• Reforço na saúde: em meio a estudos que contestam os investimentos feitos na área e denúncias de cortes no setor, o governo alega que, além de R$ 53,2 bilhões pagos, desde janeiro, a estados e municípios para o atendimento de rotina do Sistema Único de Saúde (SUS), foram repassados R$ 17,9 bilhões adicionais em razão da pandemia. Apesar das denúncias de faltas de insumos básicos para atendimento de pacientes, o governo alega que foi possível habilitar 12 mil novos leitos de UTI, voltados, exclusivamente, ao atendimento de pacientes da Covid-19.
• Gastos públicos e PIB: dados divulgados pelo Ministério da Economia tentam provar que o Brasil tem investido mais do que a média dos países avançados e quase o dobro do que as nações emergentes para combater os efeitos do coronavírus. As medidas brasileiras de combate à Covid-19, segundo o governo, representam impacto primário equivalente a 8% do Produto Interno Bruto (PIB). A média dos países avançados é de 6,7% do PIB. Entre os emergentes, a média é de 4,1%. O impacto do enfrentamento à pandemia soma mais de R$ 1,1 trilhão, segundo o governo, considerando os gastos direto do Tesouro Nacional, a liberação de crédito e a suspensão e ampliação de prazos para pagamentos, entre outras medidas.
• Empregos: apesar do crescente desemprego, o governo também afirma que um dos resultados mais visíveis da aplicação dos recursos federais no combate à pandemia está na quantidade de empregos preservados, que somam 16,2 milhões, conforme balanço do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. O Planalto ressalta que o programa ajuda empregados e empregadores a enfrentar os efeitos econômicos da pandemia por intermédio da concessão do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda aos trabalhadores que tiveram jornada reduzida ou contrato suspenso e, ainda, oferece o pagamento do auxílio emergencial para trabalhadores intermitentes com contrato de trabalho formalizado. Os investimentos para preservação desses empregos somam R$ 24, 4 bilhões.
• Retomada do crescimento: para o governo, o plano Pró-Brasil vai acelerar a retomada da economia brasileira no período pós-pandemia, por meio da execução de projetos e ações de
grande impacto na geração de empregos e renda. Além de obras já planejadas ou em andamento, o foco são as medidas de transformação, modernização e desburocratização do Estado que vão melhorar o ambiente de negócios no país e impulsionar a atração de investimentos privados. Em sua carteira, o Pró-Brasil tem mais de 160 leilões e privatizações previstos. Com isso, a estimativa é atrair R$ 1 trilhão de investimentos privados em 10 anos. A carteira completa de projetos do Pró-Brasil será apresentada à sociedade neste mês.
Em um documento, que começou a circular na última sexta-feira (21) em Brasília, o Planalto busca abordar ainda a força da agricultura para a economia, o combate aos crimes ambientais, a implementação do governo digital e a Operação #Ninguémficapratrás, que apoiou o retorno de brasileiros do exterior para o país.
Com informações do Blog do Vicente, no Correio Braziliense